segunda-feira, 25 de maio de 2015

Sou Quem Sou

Eu sou quem sou
E não estou em mim só de visita
Paro, penso, e assim fujo dessa Kriptonita
Tonto, meio cego em tiroteio
Sigo alheio, sem me olhar para trás
Tanto faz se faz sentido ou se não faz
Eu continuo, não recuo, desconstruo
Acometido de uma paz que está no meio
Entre a calma e o receio de chegar a enlouquecer
A minha alma sobrevoa e saboreia
Tão à toa quanto alheia, sem nunca saber dizer

Eu sou quem sou
E há um fio de certeza 
De que a minha natureza
É a mesma natureza 
Que criou a eternidade
De onde veio 
Essa estúpida vaidade
De querer prevalecer.





terça-feira, 16 de abril de 2013

Rimas Infantes


A breve memória vaza dos olhos
O corrente tempo que não mais
Pois tudo é apenas rasa história
A estação em que nasceu a paz
Os brinquedos e livros antigos
Abrigos na floresta do quintal
Fantasias, medos, miragens
Meras imagens da vida real
Uma infância quiçá hebetada
Uma lágrima doce de amor
Esta ânsia que ainda guardada
Sempre que me visita esta dor
O aroma branco do leite de rosas
As prosas e contos na noite abismada
Um encontro mudo de mãos misteriosas
E hoje este tudo parece ser nada.


domingo, 14 de abril de 2013

Canção do Noturno Mar

Mar que estala nos flancos
De minha cidade
Longínquos bancos de areia
Na aldeia da modernidade
O morro observa os fragores
A espuma, o hiato contido
Um silêncio entre amores
Da grande onda que vem
Da lua noite apagada
Deste momento único
Que os índios conhecem
Quando descem e param
Para ver
Para domar as águas
As que vêm do mar
E as que depois fazem chover
...

Peito que inspira o ar molhado
Dentro do vento parado
Perto da hora de ir
Um pensamento deixa a praia
A praia que na maresia acabou
Na maresia acabou de sumir.



sábado, 13 de abril de 2013

Imundo Submundo


Que tenho eu com as ruas da madrugada
Por onde cães esquecidos reviram o lixo
E os bêbados sem dono ladram
Que tenho com as calçadas sujas
Absorventes usados e cacos de cascos verdes
Quanta desilusão, engano e degredo
Tudo começara alegre como sempre
Que tenho eu com as fantasias imbecis
O buraco vazio no plexo dos fantoches
A alcateia dos paspalhos eufóricos
Os desmamados por detrás dos volantes
Que tenho eu com o vômito pisado nos toaletes
E a baba na camisa nova para pagar em janeiro
Que sei eu desta infelicidade toda
Que não a minha própria indiferença
Meus sentimentos cristalizados de desdém
Minha película escura a setenta por cento
E as esposas tirarão as meias entre palavrões
Quando amanhã será como outro qualquer
E as culpas se afogarão no ébrio inconsciente
E mais uma vez alguém assiste às gargalhadas
Que tenho eu com as fortunas destes patifes
Que enfeitam esta morte que custa tão caro.


sexta-feira, 12 de abril de 2013

Suicida


A moça confusa
Correndo obtusa
Pela rua
Nua sob a luz do poste
Ela é doida
Não encoste
Nem pense em contrariar
A moça entrou num bar
Gritando
Todos hirtos de medo
Depois saiu correndo
Cantando
Não contou nenhum segredo
Foi vista na beira do cais
Depois disso
Nunca mais.



quinta-feira, 11 de abril de 2013

Mágoa Maré


Uma lassidão de alma
Deixa o mar quase parado
De navegar anda tão cansado
Este imenso e antigo mar...
As vagas turbilhoando lá fora
Tudo abranda silêncio e lembrança
Este mar que é só mágoa e demora
Mas que ainda deságua esperança.


domingo, 7 de abril de 2013

Classificados


Quem achou um coração
Perdido feito um cão
Favor devolver
Precisa-se de afeto
Para estar sob o mesmo teto
Sem nunca se arrepender
Procura-se a felicidade
Recompensa-se bem
E não há necessidade
De vir junto com alguém
Mais uma observação
Dirigida a quem lê:
Se por acaso encontrar a dor
Ainda que disfarçada de amor
Esta pode levar para você.