domingo, 27 de janeiro de 2013

Reflexomissiva

Cria deste tempo insólito 
Movo-me de rastro pelas coxias humanas
Tento, dia após dia, numa busca ensimesmada 
Burlar a dor da austera envergadura
Some a identidade que recebi, há muito
De outro alguém que também provavelmente não era
Esconde-se sempre como se num corpo errôneo 
O estranhamento de uma vida inteira, já...
Mas sigo pelos turnos de minhas interrogações
Visto a parva indumentária de ser
Quedo-me roto de caminho, de sol
E de chuva - meu albergue chamado coração 
A memória cansada a quarenta, trinta por cento
Pesado, vai ficando a cada dia este surrado farnel
O passado amarelando deste presente 
Cada vez mais sem tempo para estar onde deveria
E o futuro, o futuro sempre ainda não é nada
Apenas minhas expectativas existem, débeis
À revelia do deus que nos quer fantoches
Desta espécie de arbítrio que nos manipula
Cria deste falso sistema divino
Reinvento-me agarrado ao grotesco arranjo de fé 
Que vem ou não vem dando certo para os outros
Mas que me mantém de pé 
Ainda que cambaleando entre os fios da marionete
Ainda que enganchado sob a luz do canhão seguidor
Que apenas meu rosto assustado ilumina
Bem no centro deste picadeiro que é a vida
Defronte à platéia imune de sua própria ignorância 
E feliz de seu mero desprezo
Sim, um tempo de muitas possibilidades
Que há para adquirir se se pudesse comprar
Um tempo de criaturas siderais e tão antigas
Quanto a existência hominal em si
A vereda através de cujas lentes se vê o espirito 
Por dentro dos olhos falsificados nas capas de revista
O quanta de época que desnuda as pessoas
Nos programas de computador e de televisão 
A moda das novelas super realistas e fantásticas 
Mas que acabam por não dizer nada 
Pois que não é o caso de haver solução. 



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