sexta-feira, 5 de abril de 2013

Licença Poética


Sou um mistério que se move invisível.
Quero crer que há um poema certo
Para todo o tipo de emoção humana.
Eu precisaria extrair do presente momento
A palavra que acabasse por me redimir
De ir sempre tão fundo nas pessoas.
Diria: Ora! Não se assuste: é só poesia.
Mas tudo acaba soando como um julgamento
E muito inconveniente pode até já ter causado.
Sou uma folha nova de papel carbono,
Uma areia imaculada de praia de manhã:
Qualquer pequeno traço me fere e marca,
A mínima esfregada mancharia a roupa branca,
Borraria os dedos dos muito límpidos entes.
E vejo o que todo mundo que tem olhos vê,
Apenas é como se me dirigisse aos espaços,
As formas entre as coisas que realmente são.
Mas acontece que o que importa são as coisas,
Os espaços entre elas são blasfematórios.
Minha ética é ter paciência para entender,
Minha moral é duvidosa tanto quanto eu sou
Se ficar calado como ficam os restantes,
Se não pronunciar as “palavras proibidas”,
Posso continuar gozando de liberdade,
Uma liberdade condicional, é bem verdade,
Mas ainda assim muito valiosa,
Valiosa e necessária como uma ração.


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