Estas palavras perfeitas confundem-me
Sou sentimento por dentro de todo o entendimento
E todas estas frases ferozes são o inverso
Pois só sei que estas palavras, as palavras perfeitas
São como água que não dá pé e eu estou submerso
Destas palavras inocentes que querem me afogar
E me rescindir. Querem talvez me anular por completo
Para que eu possa sentir o que não vieram dizer
O que não conseguem falar no sentido concreto
Via com olhos hirtos
as chamas
Das fogueiras de meus rituais
E nunca houve palavras
Que eu pudesse usar
Ou que fossem iguais
Antes de cada soluço
Mesmo que pelo avesso
Este meu eu entalado
De mim e das palavras mudas
Na garganta risca e exasperada
Como se o tempo já houvesse passado, como se noite revogada
Porque o nome das coisas é o código por detrás do que
realmente são
E ainda assim é um som que me assusta tanto esta palavra
coração
Assim como as palavras que não gostariam de ter perguntado
Se não fosse o encanto sentenciado de um ponto de
interrogação
Corria descalço e liberto
Pelo barro socado e úmido
Vermelha e longa trilha
Quilha de carro de bois
Quando então chovia
Imediatamente depois
De toda aquela alegria
Tão inocente que doía
Tão breve que passou
Mas as palavras já então me lembravam do que ainda hoje não
sou
Ou do que apenas iria poder ser apesar de só estúpidas
palavras
E até agora esta perfeição intocável e cínica me subjuga e
atordoa
Que eu sou sentimento por dentro de todo o entendimento
Até quando o metal das frases feitas soa por puro
escapismo
O mal destas palavras perfeitas é que a gente não voa
E é por isso mesmo que elas deveriam ser pontes ao invés de
abismo.
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