Existir
é curioso porque ser humano é saber firmemente que se pode ser mais
Ter
esta consciência, ainda que de forma um tanto indigente, atrapalha-nos
Daí
nasceu, quem sabe, o verbo querer e suas tão inviáveis atribuições
Sim,
o verbo querer, para que se dê um nome a tudo o que ainda não nos há
Para
sermos motivados pelo irreal destino, e isto sempre há um passo de nós
E
para que nossa minuciosa noção de eternidade não deixe de perdurar
Curioso
existir, sabendo-se a si, ao mesmo tempo em que imersos na dúvida
Toda
nossa programação depende deste dia fictício chamado “amanhã”
E
apesar da arrogância desta incerteza toda, continuamos indo, indo e indo...
Nossas
variações são tempos verbais conjugados só no futuro do imperfeito
Espera
Que esperança
Quem dera
Ainda criança
Nunca morrerá
Será?
Há?
Ah!
Quem
sabe
Um dia
Tudo acabe
Vire
poesia
Que hoje –
Só por hoje –
Quem diria
Nada
acabará...
É estranho
pensar e ter que usar esta capacidade toda justamente para ser
Quando
“ser” é apenas deixar-se, e, ironicamente, não pensar neste “si”
Nossa
unidade de medida que conta mais é apenas, e tão somente existir
O
agora se escondeu
Querendo
escapar
Foi olhar
para frente
E,
novamente
Perdeu
a hora
Que
não quis passar
...
Nossa
parte animal – nosso todo – é cronicamente inadequada para nós
Aquilo
que nos faz individualisticarbitrariamente nós é a nossa falsa impressão
Então
caímos nos truques midiáticos, nas malhas das mentiras incansáveis
Somos
tão inteligentes que somos perfeitos para parar de pensar de imediato
Ser
humano é curioso porque existir...
Existir
é tentar e nunca parar de tentar. Mesmo conseguir é tentar:
Tentar
não pensar em perder, pois sempre perder nos faria parar... De tentar
Como
se o deus de cada um patrocinasse estes projetos particulares de vida
E a
própria vida fosse um plano de fundo espesso que precisasse de nós
Porque
mesmo o mais incrédulo ou ateu crerá num deus que o faça continuar
Assim
o queira, pois para que continue dependerá de algo maior que só ser
E este
algo maior o remeterá imediatamente a si próprio, como uma metástase
O
que criará uma imagem que, embora à sua semelhança, não poderá ser a sua
E
assim por diante no débil raciocínio que se auto decompõe de inutilidade
Declinamos
nossa legitimidade a uma falsa sensação de que a qualquer momento...
Somos
perfeitos para deixar de funcionar, de súbito, anulados por nossa razão
A
mesma razão que espalha opiniões recursivas pelo mundo e vida a fora
Eu
repito
O que
acredito
Eu falo
O que
me calo
Eu digo
O que
me umbigo
Eu nego
O que
me prego
Eu sei
O que
me serei
Eu
sinto
O que
me minto
Eu
vivo
O que
me privo
Eu trago
O que
me estrago
Eu amo
O que
me reclamo
...
Apesar
de nossos prólogos contrassensos
Somos
propensos a densos monólogos.
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