Como as notas criptas de uma rapsódia
que se foi
Contas de bijuteria que se não lhe
valem o peso
Migalhas de uma vida no pano do
imenso tempo
Nossas migras intenções pelo trilho
do trem dos outros
Nossas mentiras como pedras falsificadas
de um roubo
Gotas que o sol não sabe esperar nem
o próximo passo
Grãos secos entranhados nas frestas
do borzeguim
A sola das pisadas em falso nossas que
a areia dissipou
Como as folhas deste outono tão
lívido dentro de nós
E as sementes perdidas das árvores e
roseiras que nunca
E os beijos intrépidos roubados enquanto
outrem dormia
A sórdida argamassa dos vocábulos
tiranos e interditos
Que há os medos que nos fazem e que
são para sempre
Há os amores que até hoje entranhados
na raiz dos capilares
Tudo o que se nos abjeta este passado
aturdido em nódoa
Esta frase presa em âmbar para nos
assustar muito depois
Como os restos dos adornos móbiles de
uma festa antiga
Assim como teias esquecidas e reféns da
cumeeira
Apesar deste hoje com seus afrescos
joviais e ilusórios
Moscas afogadas em copos com o sobejo
das horas idas
E o esquecimento vil que não redime
as traições
Células se multiplicando sem nenhum
aperfeiçoamento
Somos tão mesmos que olvidamos de mudar
e seguir
Não voltamos nunca para buscar nossa
alma retardatária
Estamos sempre a um passo do que
deixamos para trás.
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