segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Poesiadicção


Apartado do sentido de si próprio,
A mente erma, o coração em solilóquio,
Canta por dentro o poeta.
E é que então se agiganta a indigência,
O espectro de inutilidade, ainda mais.
A identidade hipotecada deste ser
Que veio ao mundo no sentido figurado
Do viver, do estar e apenas isto.
Até mesmo para os seus
Cada vez menos ele é,
À medida que a poesia
Pronuncia seu letal anonimato
Como um vírus de ausência,
Uma queda para dentro deste nunca,
Este salto de demência sobre o hiato que já havia:
Um coma induzido pela agonia no ponto vital...
O poeta toma seu antídoto e some, arde invisível
Como chama azulada sob o sol.
Um calor que funde os ferros da palavra
Acorrentada, demudada em punhal,
A palavra desde o seu primeiro sopro,
Desde sempre o mesmo jorro,
Após o choro que é nascer
A cada verso, cada linha, cada lira.
O poeta é a própria harpa,
A própria pira, e a poesia,
Ela é o ar que lhe respira,
O mesmo ar através do qual
O som do grito de espanto se propaga
Enquanto o silêncio se retira
E a dor do poema se apaga.




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Aqui, você.