sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Poema de Pedra


Sigo irresoluto, humano.
Trago comigo a marca viva
Na cicatriz de cada engano.
Minha história, de mim cativa,
Sem rumo, nem feliz nem triste,
Subproduto de um sumo invisível
Que escorre, quanto mais resiste
Pelos olhos da vítima desavisada que fui,
É apenas mais uma história.
Poema algum ou sentimento, ainda que perfeito,
De jeito nenhum, mesmo em cimento,
De forma alguma perpetua.
Minha história é missiva nua,
E os seus versos são vísceras
Expostas nas torrentes da rua
A entreter os indiferentes
E a penalizar os curiosos.
Meus dentes cravados no pescoço
Da moral dos venturosos.
E, longe do aval e do alvoroço,
Sigo olhando este espetáculo,
Tento passar despercebido
Como um adúltero, um ladrão fodido,
Enquanto o povo se espanta e delicia.
A multidão leviana e imune
Irresponsavelmente se levanta, me pune e sentencia...
A mesma corja doente que ainda ousa e me diagnostica.
Sigo sarcástico. Não bem por mim ou pelo que friso,
Mas sim pelo riso entusiástico que medra, se ajeita e fica,
Como se fora ele entalhado em pedra,
Na face do monumento que enfeita meu cinismo:
A estátua que só tem cara e boca –
Que a alma em si era oca,
E o coração era um abismo.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Aqui, você.