segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Um Último Verso


Foi quando, então, gritaram
Oh! Cuidado, ele está escrevendo
Um poema! Tive de parar, de ombros
Todos o fizeram, súbito, a praça, os pombos
O som tanino daquela palavra
O pensamento, a própria admoestação em si
Haveria uma dor, um alguém, quem sabe perto dali
Mas como assim, um poema?!
Quão inútil, mero, tanto quanto inapropriado
Aquelas rastilhas linhas, e eu
Eu aqui, saltando entre as ilhas minhas
A caminho do meu trabalho
Tão cedo e eu já tão esgotado...
O alvoroço tinha um quê de idolatria –
O velho escrevendo cansado, velho –
O velho que escrevia
Como se só restasse aquilo
Aquele próximo verso a manter-lhe vivo
Entre passantes, casas fantasmas
Até olhos de falso desdém
Ou teriam um outro motivo?
E, se sim, qual quem?
Ou estariam querendo dizer
Cuidado! Ele vai morrer
Não deixem o homem escrever
Este homem não é mais ninguém.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Aqui, você.